segunda-feira, 9 de abril de 2007

A Chatice

"A frase que mais vezes ouvi enquanto andava na escola, no País dos anos 70 e 80, era um conselho tintado de profecia: Quando trabalhares, a única coisa importante é que gostes daquilo que fazes. Suspeito de que tenham dito o mesmo a pessoas da minha idade que recolham lixo, limpem fossas ou trabalhem numa bilheteira de um terminal de autocarros. Não admira que possamos supor que se sentem traídas, odeiem o que façam e sonhem todos os dias com férias, E que provavelmente desejem para os seus filhos que estes façam qualquer coisa de que gostem e na qual se sintam realizados, pessoal, profissional e financeiramente.

Que desejo eu para o futuro dos meus filhos? Não lhes posso prometer que vão ser felizes ou que vão gostar daquilo que estão a fazer- sejam astronautas, decoradores ou chefes de repartição. A vida é deles e essas conquistas também. Essencialmente, e se pudesse, desejaria que eles se sentissem autónomos para poderem escolher seja lá o que for que esteja em causa e que sentissem que o caminho que tomaram os levará a algum lado. Se não levar, podem sempre voltar atrás e contar comigo. Um sintoma de que isso estaria a acontecer seria não terem permanentemente um desejo infinito de férias e de escapismo. Porque, como bem sabemos, as férias só são férias porque acabam."

Pedro Boucherie Mendes

Nenhum comentário: