quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Uma mensagem para o 2008 de quem nos visita

Bons filhos conhecem o prefácio da história de seus pais Filhos brilhantes vão muito mais longe, conhecem os capítulos mais importantes das suas vidas.
Bons jovens se preparam para o sucesso. Jovens brilhantes se preparam para as derrotas. Eles sabem que a vida é um contrato de risco e que não há caminhos sem acidentes.
Bons jóvens têm sonhos ou disciplina. Jovens brilhantes têm sonhos e disciplina. Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas, que nunca transformam seus sonhos em realidade, e disciplina sem sonhos produz servos, pessoas que executam ordens, que fazem tudo automaticamente e sem pensar.
Bons alunos escondem certas intenções, mas alunos fascinantes são transparentes. Eles sabem que quem não é fiel à sua consciência tem uma dívida impagável consigo mesmo. Não querem, como alguns políticos, o sucesso a qualquer preço. Só querem o sucesso conquistado com suor, inteligência e transparência. Pois sabem que é melhor a verdade que dói do que a mentira que produz falso alívio. A grandeza de um ser humano não está no quanto ele sabe mas no quanto ele tem consciência que não sabe.
O destino não é frequentemente inevitável, mas uma questão de escolha. Quem faz escolha, escreve sua própria história, constrói seus próprios caminhos.
Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. Sonhem com os altos montes para que vocês possam ter dignidade quando atravessarem os vales das perdas e das frustrações. Bons alunos aprendem a matemática numérica, alunos fascinantes vão além, aprendem a matemática da emoção, que não tem conta exata e que rompe a regra da lógica. Nessa matemática você só aprende a multiplicar quando aprende a dividir, só consegue ganhar quando aprende a perder, só consegue receber, quando aprende a se doar.
Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia vai além, aprende com os erros dos outros, pois é uma grande observadora.
Procurem um grande amor na vida e cultivem-no. Pois, sem amor, a vida se torna um rio sem nascente, um mar sem ondas, uma história sem aventura! Mas, nunca esqueçam, em primeiro lugar tenham um caso de amor consigo mesmos.

(Texto Augusto Cury)

E façam o favor de ser felizes ;-)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Filhos, não obrigada! 16 razões para não cair em tentação :-)

1- Parto, uma tortura
"O parto é doloroso e mesmo com a epidural está longe de ser um acto de prazer" Corinne Maier

2- Biberão ambulante
A amamentação está na moda mas é um acto muito doloroso

3- Fim do divertimento
Depois de ter um filho vai passar a viver ao ritmo das crianças, estará dependente do calendário escolar e da disponibilidade da avó

4- Rotina, instala-se
Levantar todos os dias à mesma hora, ir levá-las à escola, ir a correr para o trabalho e repetir tudo isto no dia seguinte, é uma tarefa cansativa

5- Amigos fogem
Quando alguém se apaixona consegue falar horas e horas sobre as qualidades da pessoa que ama, o mesmo sucede depois de ser mãe

6- Fim do erotismo
Imagina o filme Nove Semanas e Meia com um filho no quarto ao lado?A temperatura desce rapidamente para os nove graus e meio

7- Apenas mãe
Depois do nascimento de um filho, as mulheres passam a ser vistas apenas como mães e não como mulheres

8- Aliado do capitalismo
Para ser um pai ou mãe dignos desse nome, tem que consumir forçosamente

9- Crueldade infantil
O seu filho é como o seu cão, se fosse duas ou três vezes maior, seria um animal feroz - o seu pior inimigo

10- Produtos de luxo
Ter um filho é mais caro do que comprar uma viatura de luxo ou fazer um cruzeiro à volta do mundo

11- Ocupá-los, uma dor de cabeça
Se no passado as crianças brincavam na rua, hoje são poucas as que têm esse privilégio

12- Datas castigo
As férias e o Natal são dois aborrecimentos gigantes dos quais os pais não podem fugir

13- Sofrer desilusões
O seu filho vai desiludi-la forçosamente

14- Abandonar os sonhos
"Não posso deixar o emprego que odeio por causa dos meus filhos"

15- Mãe ou profissional
Ser mãe significa perder dinheiro e oportunidades

16- Crianças sem futuro
Sacrificar amigos, carreira, harmonia conjugal para gerar futuros perdedores, desempregados ou trabalhadores precários?

in Happy Woman

Catarina

domingo, 2 de dezembro de 2007

Bem vinda

A partir de hoje este blogue será partilhado com a minha amiga Catarina a quem "alojei" :-) , não sei se temporariamente.

Catarina, sem tempos nem pressas, a casa também é tua. Um grande beijinho, flores (muitas) e desejo de grandes vôos para ti

abelhinha

sábado, 17 de novembro de 2007

Era uma vez um rapaz

Hoje voltei até aqui entre dualidades, confusão e transtornos e parece mesmo que já nem te conheço. Agradeço a quem não devo, culpo quem é inocente. Faço tudo ao contrário. Brinco com o meu "eu" e desafio o meu "mim". E mais uma vez não consigo escolher, e olho para trás infinitas vezes. E quero, e desejo, e sinto falta, sinto muita falta, e mais do que tudo tenho necessidade, muita necessidade de segredar em gritos o que sou, o que fui e o que faço e exibir os meus troféus. Perco todas as discrições e a timidez (que tu tanto aprecias ) e revelo-me meio-rapaz/meio-homem usando as minhas estratégias, as minhas velhas estratégias.
Deixo saltar a culpa, desdobro-me em agradecimentos que se perdem nos passos e despejo quase meio do meu passado. Como gostava que me entendesses... e como gostava de vestir a tua pele nem que fosse só por um dia, para nos compreedermos, para chegarmos a um entendimento, para que pudesse dar-te o meu relógio. Como gostava de te dar da minha energia para quebrarmos este gelo, mas essa eu também não sei por onde anda.
Vivemos dias diferentes em meses diferentes e eu só quero que me digas o que pensas, que me digas que as minhas vitórias também são as tuas, que festejes comigo esta alegria, enfim... que abras o teu casulo, nem que seja para me contares histórias...e eu escrever, quando me calar.

'Era uma vez um rapaz que era dois. Um deles nunca tinha lembranças do outro, e o que é mais, um nunca tinha influência na vida do outro; cada um era o que era por separado e assim, com uma assombrosa pontualidade, a pontualidade com que os astros marcam o solstício, dava-se a estranha metamorfose. Na primavera, e mais ainda no verão, poderia garantir-se que este rapaz era o sol; mas no Outono, e mais ainda no Inverno, este rapaz era indubitavelmente a lua: a sua pele ficava pálida e os seus cabelos transformavam-se em arame, com calas brancas e outras grisalhas. E o rapaz andava sempre muito triste no Inverno, ao contrário do que sucedia no verão: a sua pele era morena, e o seu cabelo liso, e o próprio riso fazia-o despertar de manhã bem cedo.

A sua mãe preocupava-se muito com o fenómeno das mudanças; correu com ele um sem-fim de especialistas, que lhe faziam toda uma panóplia de exames e análises, e mandaram que engolisse milhares de comprimidos; de manhã, à tarde e à noite; só que os especialistas do Verão nunca concordaram com os médicos do Inverno; e os especialistas da transição só diziam coisas sem nexo, antes de concluírem agora, minha senhora, é preciso esperar para ver.

Até que um dia o rapaz que era dois desapareceu: passando numa rua habitual, sentiu duas mãos agarrá-lo para junto de uma pared
e branca. O mais estranho é que não eram só aquelas duas mãos que o agarravam; era também quem ia atrás daquelas mãos, alguém que afinal tinha muito mais do que duas mãos, tinha duas vontades. E de um momento para o outro, quando estava todo encostado à parede, à sua volta tinha crescido um estranho casulo.

A seu lado lá dentro, estava uma rapariga que era meio flor, meio lobo; queria florir na primavera e queria ser um lobo no inverno; queria ser verde e respirada pelos outros, e queria poder uivar nos promontórios; e não importava que o vento gélido retumbasse as folhas amarelas, nem a tristeza íntima de tudo.
Ele nunca mais voltou a sair daquele casulo, e ela também não; ficaram encostados a uma parede branca, pela qual passam diariamente milhares de pessoas, no meio delas a mãe do rapaz, cada dia mais triste, e todos os especialistas a caminho do hospital, muito preocupados com outros doentes que também era meio qualquer coisa, meio outra.' E.C.

sábado, 10 de novembro de 2007

domingo, 14 de outubro de 2007

Agora que já todos me descobriram! :-)

Pronto! Já todos sabem que eu sou a abelhinha, que chatice!
Ainda não foi desta que vos consegui "dar a volta" :-)

Ora...papoilas e borboletas já são mais que muitas, tartarugas também já conheço algumas...vou ter que recorrer a outro nome fofinho, qualquer coisa como andorinha ou carochinha, que me dizem? Ou simplesmente florzinha, floribella, que giro! ou chiquitita, se calhar também não seria má ideia, piriquita, canarinha :-) (desculpem mas começaram-mer a ocorrer um sem número de "nomezinhos", vindos do nada, para ocultar a minha identidade). Humm...calimera tb é engraçado e sempre fui grande fã do calimero (estou só a pensar alto).

Ou...ah! Também posso recorrer aqueles compostos do tipo "flor afogada", "lua iluminada", ("abelhinha sem asas" esqueçe-se! ok? senão a minha mãe não pára de gritar ao mundo que eu estou sempre a cair e a levantar-me), "tua para sempre", "pétala de nenúfar" (digam lá que não é lindo?). Ou então em último caso espeto-lhe com um estrangeirismo qualquer, tipo "borrowing me" (tenho que te tirar o chapéu!), "sleepping too mutch", "eyes without green" (este parece-me bem).

Uff! Menos uma preocupação!Opções para endereço já tenho! (se for aceite, é claro) Agora quando quiser criar um blog novo (mais um? dizem vocês ), que isto é como mudar de casa, só tenho que pensar na "decoração", uma imagenzinha ali, uma cores bonitas acolá, mais umas tantas fotos e um novo perfil.

AH! O Perfil, isso é que não! Não tenho paciência, além disso o que interessa saber quais são os meus livros preferidos (estão todos alinhadinhos na estante,meus queridos) as músicas que eu ouço (já comprei caixinhas novas para organizar os últimos cd's por odem alfabética), e quem sou eu (nem eu sei :-)?

Vocês querem é ler umas coisas e uns desabafos bonitos, então se forem declarações de amor, fantástico!
Vocês ( e eu) precisam (os) de ler coisas bonitas, porque este mundo anda muito feio! Palavrinhas mágicas, pinceladas de cor e aguarela (esta já está muito batida mas fica sempre bem ;-)
Palavras de Amor, minha gente, Amor, ensinamentos, pensamentos, seja lá o que for que que nos encha a alma e toque nestes coraçõezinhos que parecem umas conchinhas fora de água, ABRAM-NAS! E TODOS FICAREMOS MELHOR!

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Educação para Adultos

"Que a educação seja o processo através do qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma. Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as conseqüências de sua escolha. Mas isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende. "

FUCK, 1994

domingo, 23 de setembro de 2007

Miúdas bonitas

"Ao final de 12 ou 15 anos voltei a falar com ela ao telefone. Foi estranho. Achei-a rude e até de certo modo agressiva.

Achei que estaria num dia menos bom e que talvez a simpatia tivesse deixado ser uma das suas caraterísticas. Em abono da verdade, a minha mãe diz que não se lembra que ela fosse muito simpática.


Como diz um amigo meu, no liceu as miúdas bonitas andam sempre com miúdas feias ao lado. "É uma simbiose. As bonitas ficam, aparentemente, mais bonitas e as feias ficam com os restos". Ela era a bonita e eu a feia, ou pelo menos assim achava, mas olhando com distanciamento, tinhamos ambas sucesso nos rapazes, nunca nenhuma ficou com os restos da outra porque gostavamos de pessoas diferentes.


Talvez tenha estranhado, que ao final destes anos todos, não tenha havido pitada de satisfação pelo reencontro (telefónico) como aconteceu com outras pessoas do mesmo grupo e com quem estive este tempo todo sem falar.


Comentei com a Rute, uma amiga da época e que também fala com ela.


A Rute responde:- Deve ser contigo, comigo é brusca mas nada disso que tu dizes.

E enquanto conversava com a Rute divagavamos porque motivo ela teria este "problema mal resolvido" comigo. Para ser uma coisa tão entranhada, confesso que apenas me ocorrem cenas relaccionadas com homens.


E foi quando se fez luz.


Na altura ela namorava com o Paulo.No final do último ano lectivo em que estudamos todos juntos, Paulo ofereceu-me o seu cartão da escola onde tinha feito umas alterações. No lugar da sua foto tinha colocado um "Tou" (não sei se se lembram de uns autocolantes que saiam no Bolicao). Era o "Tou te a mirar"

Mas que culpa tenho eu? Não fui eu que comprei o bolicao.


Vistas bem as coisas, também com distanciamento, acho que se eu fosse a namorada do Paulo, nesse momento eu passaria a ser a ex-namorada do Paulo. De qualquer forma eles ainda foram (ou não) felizes durante mais 3 ou 4 anos."

sábado, 22 de setembro de 2007

HISTÓRIA


Uma História da Carochinha


Há uma pergunta que apaixona há décadas todos os automibilistas inteligentes: qual é o melhor carro do mundo a seguir ao Carocha?


O Carocha é tão bom que a Volkswagen, ao verificar que eram indestrútiveis e que haveria sempre um número suficiente para satisfazer todos os pedidos, foi obrigada a deixar de fabricá-lo. Hoje em dia, continua a ser fácil e barato comprar um bom carocha: o único automóvel metafisicamente incapaz de ser de segunda mão.


Pouco depois de acabar a produção de Carochas, a Volkswagen lançou um novo conceito de automóvel: o Golf.


Durante duas décadas resisti à tentação de exprimentar um destes carros. 20 anos é o mínimo para um carocheiro. Tudo o que dura menos que 20 anos é desprezível, considerando que é esse o período de rodagem dum VW 1200.


Há coisa dum ano arredondaram o Golf, num gesto de ternura para com a lembrança do Carocha. Decidi que tinha chegado o tempo de pô-lo à prova. Esperei que me rebocassem o Carochae, sabendo-o na segurança do parque da PSP, com vista magnífica sobre o Tejo e o vale do Restelo, dirigi-me à SIVA onde requisitei um golf.


Quando entrei no carro, senti abater-se sobre mim o peso de 20 anos, muito tempo para que tudo continuasse na mesma.


A ausência das janelinhas triangulares, que permitem um posicionamento preciso do jacto de ar, a não ser a velocidades loucas (como mais de 90 Km/h), obrigou os engenheiros da Vollkswagen a instalar o ar condicionado.


Chocou-me um pouco a tóxico-dependência da electricidade. Um Carocha ... continua

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Quero muito passar este elogio

Elogio ao amor (Miguel Esteves Cardoso - Expresso

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão alimesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia aspessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passívelde ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia serdesmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amorcego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sãouma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nascostas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amorfechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor éamor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não sepercebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor éa nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Uma carta para mim :-)

' Por muito duro que seja o caminho, por muito difícil que seja a caminhada, por muito que sintamos que estamos perdidos, há sempre uma porta que nos leva ao lugar certo!
Às vezes esse lugar parece-nos escuro e sombrio. Lá sentimo-nos sós, com frio, desesperados e com medo...
Mas é esse medo, esse frio, esse desespero que nos eleva e nos faz ver que somos o resultado daquilo que criamos. E é desse medo, desse frio, desse desespero, que nasce uma luz que nos faz acordar e que nos guiará no nosso caminho.

As tristezas e o sofrimento de hoje são as alegrias e as felicidades de amanhã. São elas que nos tornam aquilo que somos... Por isso nunca te arrependas dos erros que cometeste, sofre o que tens que sofrer para apagar o mal que fizeste e seguires em frente. Porque tu és aquilo que criaste e o que fizeste não podes mais alterar, mas o hoje e o amanhã são teus e há tempo para mudar.

Não fiques parado no tempo, vive daqui para a frente uma vida bonita, ama tudo aquilo que te rodeia, ajuda os outros sem esperar nada em troca e perceberás que vale a pena sonhar e viver.
Vais aprender que a ajudar os outros é que vais encontrar a felicidade e te sentir completo e preenchido!

Neste momento difícil não estás só! Há tanta gente à tua volta ( que nem consegues ver) que está lá à espera que te tornes naquilo que te estás a tornar e que sempre deverias ter sido.

Tem fé em ti! Eu tenho fé em ti! Eu sei que Deus nunca nos dá uma cruz mais forte daquilo que conseguimos aguentar.

Chegou a hora! Aproveita este momento de dor e de sofrimento para dar o salto para uma nova vida cheia de sentido e de alegria...

Sê feliz!

Abre os olhos e nasce para a vida!
Encontra a paz, vive a paz e fica em paz.

Com carinho'
*****

domingo, 9 de setembro de 2007

Não leias, vai!


" Na praia da Boa Nova, um dia
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto castelo, o que é a fantasia
Todo de lápis-lazuli e coral"

António Nobre

Grãos de areia e beijinhos

Avistei um pára-quedas
Saltaste e...
Lá estavas tu livre, entre os muros que nos separam
Os olhos não escondiam o medo
A voz prendia-se e disfarçaste muito bem a tossezinha nervosa
Contamos todas as rochas e ofereci-te conchinhas

Entre beijos e abraços sussurraste-me ao ouvido
E fizeste-me mais leve

Obrigada por teres voltado!

domingo, 8 de julho de 2007

Estar enamorado

"Estar enamorado, amigos, é encontrar o nome certo da vida.
É encontrar por fim a palavra para fazer frente à morte.
É encontrar a chave oculta que abre o cárcere em que a alma está cativa.
É encontrar-se da terra com uma força que chama de cima.
É contemplar do cume a razão das feridas.
É notar nuns olhos um verdadeiro olhar que nos olha.
É escutar numa boca a própria voz profudamente repetida.
É surpreender numas mãos esse calor da perfeita companhia.
É suspeitar, definitivamente, que a solidão da nossa sombra está vencida.
Estar enamorado,amigos, é ouvir no deserto a cristalina voz de um rio que nos chama.
É governar a luz do fogo e ao mesmo tempo ser escravo da chama.
É entender o diálogo pensativo do coração e da distância.
Estar enamorado, amigos, é assenhorar-se das noites e dos dias.
É contemplar um comboio que corre pela montanha com as luzes acesas.
É contemplar perfeitamente que não há fronteiras entre o sonho e a vigília.
Estar enamorado, amigos, é sofrer espaço e tempo com doçura.
É não saber se são nossas, ou não, as longínquas amarguras.
É regressar à fonte das águas turvas da corrente da angústia.
É partilhar a luz do mundo e ao mesmo tempo partilhar a sua noite escura.
É espantar-se e alegrar-se por a lua ser ainda lua.
É comprovar no corpo e na alma que a tarefa de ser homem é menos dura.
Estar enamorado é começar a dizer SEMPRE, e daí em diante não voltar a dizer NUNCA.
E é além disso, amigos meus, ter a certeza de ter as mãos puras."

Francisco Luis Bernárdez

segunda-feira, 14 de maio de 2007

6 Amigas Que Toda a Mulher Deveria Ter

Com afinidades e diferenças, elas são a família que escolhemos. Fiéis escudeiras, conhecem os nossos gostos e desgostos e sabem exactamente o que fazer quando precisamos delas. Embora a gente possa contar com as amigas nas piores enrascadas, há sempre aquela que se encaixa melhor numa determinada situação: a que ama viajar, a que consulta os astros antes de dar palpites reveladores, a que ressuscita a auto-estima... Se você tem essas companheiras, dê graças aos céus pela linha de frente poderosa! Se não tem, vá atrás das que "faltam" - porque certamente elas tornam o dia-a-dia muito mais colorido.

AMIGA QUE DIZ A VERDADE
1. É aquela que interrompe o seu discurso cheio de razão, olha bem nos seus olhos e diz: "Não, você não está certa". Sem meias palavras, mostra um ângulo da questão que não era óbvio e pronto: você ouve os argumentos e acaba reconsiderando. Porque, quase sempre,ela tem razão. De vez em quando vocês se estranham, mas logo passa. Afinal, não é qualquer pessoa que está falando. Márcia Torvelo, economista, sabe muito bem a quem recorrer quando quer ouvir a verdade. "Se me sinto injustiçada, procuro aquela amiga que não vai concordar comigo só para me agradar. Muitas vezes fico arrasada com o que ouço, mas estabelecemos uma relação de confiança tão grande que ela tem a liberdade de me dizer coisas que outras pessoas não ousariam." Para questões menos graves, essa amiga é igualmente eficaz. Quer saber se o novo corte de cabelo ficou bom? Pergunte a ela. Detalhe: amiga que diz verdades também é capaz de ouvir verdades. Isso lhe dá o mesmo direito de ser absolutamente sincera com ela. Afinal, amiga é para essas coisas.

AMIGA CHEIA DE SABEDORIA
2. Ela conhece uma taróloga ótima, freqüenta um massagista japonês e entende um pouco de astrologia, numerologia, I Ching e cabala. Se bobear, tem ainda linha direta com Deus. Acredita que o que fazemos com o outro volta para a gente e que tudo pode dar certo se quisermos de verdade. Essa amiga realmente tem fé na energia cósmica e passa essa certeza para você. Por isso, quando sente que está pessimista, a pediatra Alice Pedroso recorre a sua amiga zen. "Sei que ela vai pegar o meu mapa e descobrir qual quadratura de astros está me deixando assim. Só conversar com ela já me tranqüiliza." Mesmo sem entender bem o que significa "entregar para o Universo", você segue seus conselhos: toma um banho de sal grosso, pinga algumas gotinhas de lavanda no lençol e vai dormir. E não é que no dia seguinte você acorda melhor?

AMIGA QUE É SUPERPRÁTICA
3. Ela sempre lembra de alguém que pode quebrar o seu galho, seja um contato de trabalho, um candidato a namorado ou uma ótima costureira. Prática por natureza e generosa por vocação, ela tem expediente e adora adotar uma alma perdida. Não sabe a que médico ir? Ela indica. Precisa organizar uma festa? Ela conhece os melhores fornecedores. Está em dúvida sobre o que escolher no cardápio do restaurante? Ela decide por você. É um pouco mandona, mas deixe claro quando não desejar sua interferência e nunca terá problemas com ela. Essa amiga quer sinceramente que você seja feliz e não poupa esforços para ajudá-la. Para melhorar o clima do seu casamento, é capaz de pegar seus filhos no fim de semana só para deixar os pombinhos sozinhos. Mas atenção: essa boa samaritana não suporta a ingratidão. Tudo que espera de você (e ela merece!) é reconhecimento. Então, agradeça, agradeça, agradeça.

AMIGA QUE LEVANTA A AUTO-ESTIMA
4. Ao menor sinal de abatimento, ela entra em ação. Lembra todas as suas conquistas, enumera suas qualidades e só falta dar uma salva de palmas para animá-la. Se percebe que você está preocupada com grana, oferece dinheiro emprestado antes de você pedir. Se acha que está triste, marca uma tarde no cabeleireiro para as duas. Sempre olha a metade do copo que está cheia e tem o dom de fazê-la sentir-se querida e admirada. Se você encerrou um relacionamento ou acaba de ser demitida, convoque-a. Como um espelho, ela devolve a sua melhor imagem: a de uma pessoa que ela admira e que, se não existisse, deixaria o mundo bem sem graça.

AMIGA DE BALADA
5. Se o forte das suas outras amigas é conversar, essa prefere ação. Uma festa a fantasia, uma noitada sem hora para acabar, uma viagem bate-e-volta... Como uma adolescente, esbanja disposição para fazer coisas, não importa muito o que nem a que horas. O tempo que passam juntas é só lazer. Esqueça crises ou inseguranças - esses assuntos são da seara de outra amiga. Essa é parceira de balada. É ela que inventa uma festa-surpresa no seu aniversário, se oferece para organizar o amigo-secreto do fim do ano e fica horas na fila para comprar ingressos para o show da sua banda preferida. Tudo o que você curte ela curte também. Assim, estão fadadas a se divertir muito, sempre. Quer companhia melhor que essa?

AMIGA FANÁTICA POR COMPRAS
6. Para ela, fazer compras é uma festa. Está sempre pronta para conhecer uma loja nova, não importa se fica numa ruazinha escondida lá no fim do mundo. Endereços descolados são a sua especialidade. E adora companhia para bater perna e consumir, seja na Daslu, seja na feirinha hippie. Sem preconceito. E jamais, em hipótese alguma, perde a paciência numa liquidação. Tem olho clínico para achar peças maravilhosas no meio de tranqueira e divide seus achados de bom grado com as amigas. Não vai se incomodar se você levar horas experimentando mil sapatos para no fim escolher mais uma bota. Mesmo sabendo que você já tem três pares, ela não a recrimina. Fica solidária com a sua súbita paixão pelo novo modelo e endossa a escolha repetindo que a bota ficou o máximo. "É a sua cara", diz, animada, deixando você ainda mais feliz.

Regina Valadares

A Regina que me desculpe mas eu continuo a preferir os homens. As amigas estão sempre lá, eu sei, mas nada melhor que um homem para uma bela conversa, levantar-nos a auto-estima e até fazer compras.
As mulheres são umas chatas. Senão vejamos, tema nº1: homens. Quando me encontro com alguma amiga para pôr a conversa em dia faço sempre um rewind na minha memória porque sei que é certinho começar-me a falar do gajo de quem falamos na última conversa, ou então, na melhor das hipóteses fala-me de um "homem novidade" com quem teve um relacionamento de 2 meses encantadores mas que a abandonou sem se perceber porquê e que já soube pela "melhor amiga" que ele entretanto já está a viver com outra...haja paciência!
Há cerca de 10 anos que ouço as mesmas histórias, com algumas pequenas diferenças é certo ( agora já moram juntos passados 2 dias de se conhecerem!!! e oferecem prendas de valores ai Jesus! ficando a minha pequenina cabeça pensadora a matutar mas o que homem terá feito para a desgraçada esbanjar assim o subsídio de natal?!)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Eu nunca li António Lobo Antunes

Foi depois de ouvir uma entrevista na RTP1, em Setembro do ano passado, que fiquei a conhecê-lo melhor e nessa noite estava capaz de ficar ali a ouvi-lo colada à televisão.
Fiquei com a certeza de ser uma pessoa de uma beleza interior sem limites e passei a ser sua admiradora.

Numa entrevista afirmou: "no fundo, a nossa vida é sempre uma luta contra a depressão e, em relação a mim, escrever é uma forma de fuga ou de equilíbrio… Por outro lado, há a sensação de qualquer coisa que nos foi dada e que temos obrigação de dar às outras pessoas: quando não trabalho sinto-me culpado. Há ainda a sensação do tempo, ou seja, ter na cabeça projectos para 200 anos e saber que não vamos viver 200 anos..." E porque a vida, para mim, é mesmo isto, tinha que mostrar-lhe que estou consigo neste momento menos bom e o quanto fiquei decepcionada com aquilo que a vida nos guarda, especialmente a quem dá tanto de si aos outros.

Como diria uma amiga "são provas..." Se o são ou não, não sei. Mas que a força interior é o que mais conta nestas situações, não duvido. E acima de tudo é preciso que aqueles que nos rodeiam não nos façam sentir uns coitadinhos mas continuem a acreditar em nós.

Como não gosto de falar de doenças ( e muito menos escrever sobre elas) prefiro pensar que o António (permitam-me que o trate assim) está apenas a fazer uma curta pausa no seu trabalho de psiquiatra (sim, que o escritor nunca pára) para aprender e daqui a uns tempos nos trazer novidades. Por mim, continuarei atenta e prometo tornar-me uma humilde e assídua leitora se vencer esse bicharoco que o veio visitar.

Deixo-vos com um excerto delicioso da obra "A ordem natural das coisas" :

ATÉ aos seis anos, Iolanda, não conheci a família da minha mãe nem o odor dos castanheiros que o vento trazia da Buraca, com as ovelhas e os chibos que galgavam a Calçada na direcção do cemitério abandonado, tangidos por um velho de bóina e pelas vozes dos mortos. Ainda hoje, meu amor, estendido na cama à espera do efeito do valium, me sucede como nas tardes de verão em que me deitava, à procura de fresco, num bairro de jazigos destroçados: sinto um ornato de sepultura magoar-me a perna, oiço a erva das campas no lençol, vejo os serafins e os Cristos de gesso que me ameaçam com as mãos quebradas; uma mulher de chapéu plantava couves e nabos nas raízes dos ciprestes; os badalos dos cabritos tilintavam na capela sem imagens, reduzida a três paredes calcinadas e a um pedaço de altar com toalhinha submerso em trepadeiras; e eu observava a noite avançar lápide a lápide, coagulando as bênçãos dos santos em manchas de trevas.

Mas ontem, por exemplo, abraçado ao teu corpo enquanto aguardava que a indulgência do remédio me libertasse dos sobressaltos da memória, veio-me à ideia um crepúsculo antigo, em cinquenta ou em cinquenta e um, com os canteiros do jardim regados de fresco, o Senhor Fernando, em camisola interior, a fazer ginástica à varanda, e um reboliço de gatos à porta da cozinha, comigo empoleirado no muro a farejar as brisas de Monsanto e a escutar os cavalos dos monárquicos vencidos que baixavam a serra (conforme me contou a Dona Anita que era menina nessa altura) a caminho das celas da Penitenciária.

Não entendo por que motivo, querida, nunca te interessaste pela minha infância: sempre que falo de mim encolhes os ombros, a boca torce-se, as pálpebras prolongam-se de desdém, rugas escarninhas surgem por detrás da franja do cabelo loiro, de modo que acabo por me calar, envergonhado, a colocar os copos, os pratos e os talheres na mesa do almoço, enquanto a tua tia tosse na despensa e o teu pai roda os botões do televisor em busca das estridências da novela. E todavia, Iolanda, logo que adormeces, mal o teu rosto, amolgado na almofada, readquire a inocência do presépio de outrora, tal como te vi, pela primeira vez, na pastelaria à esquina do Liceu, quando os teus dedos sujos de tinta e os teus cadernos escolares me comoveram de uma alegria sem sentido.

logo que adormeces e uma brancura de olmo compássaros nos atravessa o quarto, arengo sem que me troces, converso, pairando sobre ti, com as tuas palmas inertes e as tuas coxas indefesas, e a casa onde morei antes da família da minha mãe surge da noite, nascida de uma imperfeição do espelho ou da gaveta da cómoda em que a nossa roupa se mistura com ninhos de traças e maçanetas de cobre, desde que há meses me ordenaste Vem e eu me apresentei, com o guarda-chuva e duas malas gastas, neste andarzinho da Quinta do Jacinto, em Alcântara, para explicar que sim, que tinha mais trinta e um anos do que tu mas o emprego do Estado, Senhor Oliveira, não é mau de todo, e claro que pagaria a electricidade, a renda e a despesa do talho.

Meu amor, ouve. Talvez me compreendas no teu sonho, talvez o teu corpo se liberte da ironia a meu respeito e me queira, talvez as tuas pálpebras, agora doces, estremeçam se disser como gostaria que mexesses e me deixasses mexer-te, talvez encostes a mim o tufo de pêlos do teu ventre, e os joelhos se abram devagar sobre uma húmida, lisa, tenra maciez de gruta que aprisiona o meu desejo numa firmeza de nácar. Mas desde o verão que me ignoras, apaixonada por um colega de turma de acne aceso e barba a despontar, que nos visita a pretexto de dúvidas de Geografia ou Matemática e me aperta as falanges, até estalar os ossos, num cumprimento cruel. Reduzido a um vago parente de colete, gravata e farripas grisalhas, incapaz de um pino, incapaz de ler sem óculos, incapaz de correr vinte metros por causa das hesitações do coração, incapaz, em suma, de competir com aquele miúdo borbulhoso, maior do que eu, sem barriga, sem calvície, sem placa, cujos dezoito anos me derrotam, aguardo a noite, numa imobilidade de tarântula, quando o teu corpo, temperado pelo azeite e pelo vinagre do dentífrico e do perfume barato, encolhe a fim de se ajeitar no colchão, quando a cadência do peito se torna sigilosa como a dos barcos, quando os teus lábios, afunilados pelo amuo do sono, sopram um beijo que se me não destina, aguardo a noite, medindo a densidade das trevas pela insónia do teu pai e a bronquite da tua tia do outro lado do tabique, e recomeço a minha história no episódio em que a deixei, regressando, Iolanda, à casa onde vivi antes de conhecer a família da minha mãe, com os seus mil corredores, os seus mil esconsos, os seus mil esconderijos, a casa, a casa,

a casa, meu Deus, cercada de grazinas sobre a falésia e os vapores do oceano, de portadas batidas pelo vento e cortinas em pedaços, com o anúncio Hotel Central em semicírculo na fachada e os três polícias secretos, sempre de negro, de braço erguido na saudação nazi, que bebiam, na salinha de estar, a cevada da manhã.

É então que me lembro dos equinócios que transviavam as arvéolas poisadas na cristaleira, nos enfeites do corrimão e no torpor das sinusites, e no temporal a varrer o larguinho em frente da pensão, com um antiquário às escuras e vitrinas de leques espanhóis e de budas remendados, é então que me lembro da garagem do mecânico albino que consertava os automóveis no verão, arrastando-se para a barriga dos motores. Os mochos, Iolanda, esmagavam-se no postigo do meu cubículo, pegado ao compartimento da cozinheira com uma retrete ao pé da cama e a vazante sempre a ferver no ralo, e a lotação do hotel éramos nós os dois mais a minha madrinha e os três polícias secretos, embora, quando chegava Julho, limpassem a praia de detritos, um calor amargo viesse tranquilizar as ondas, e de imediato a cozinheira e a velhota se revezassem no vestíbulo, de crochet no colo, na ilusão de que um táxi milagroso desembarcasse um grupo de americanas transidas, derrotadas pela angústia dos pinheiros e as molas dos estofos.

Se penso, meu amor, na vilazinha da meia dúzia de chalés tombados, sem proprietário, onde as aranhas fiavam o abandono, em equilíbrio sobre as ravinas e o grito das aves, e a comparo com este apartamento de Alcântara junto à passagem de nível do comboio e aos navios do Tejo que nos roçam as fronhas coroados de delfins, as minhas pernas procuram, sem que me dê conta, o côncavo dos teus joelhos, e comprimo o peito contra as tuas costas numa súplica de protecção que me confunde por me parecer ridículo um homem de quarenta e nove anos em busca de auxílio numa rapariguinha de dezoito ocupada a sonhar com arcanjos de motorizada vestidos de blusão de cabedal, acelerando, para a salvar, do velhote inofensivo que sou, atarantado de timidez e de surpresa. E contudo, Iolanda, não julgues que a minha vida numa aldeola da região da Ericeira em que os eucaliptos gotejavam as lágrimas de um desgosto sem cura não era agradável: era agradável. Quando a ciática não a afligia, descarnando-a de sofrimento no colchão, a cozinheira jogava às cartas comigo no quarto da caldeira avariada, enquanto os polícias secretos estremeciam o soalho sobre as nossas cabeças, a combinarem torturas e prisões. Em certas madrugadas de outono o mar e o vento amansavam e distinguia-se uma língua de areia logo povoada de toldos, de cabazes de comida, de pirâmides de chinelos e de famílias em roupão. Mimosas brotavam dos penedos e nos chalés flutuavam as candeias dos habitantes de outrora, até que uma camioneta de carreira arrebanhava os veraneantes que seguiam a chocalhar para Lisboa, à medida que as vagas engoliam a praia, o céu se cerrava em nuvens de tempestade com arestas de gaivotas gritando pelas rochas, as copas das árvores libertavam cardumes de pintarroxos dementes, e a minha madrinha, indiferente à tempestade, pegava na agulha de crochet e sonhava com americanas extravagantes, vestidas de sandálias e panamá como para uma expedição aos trópicos.

Um comboio abriu a noite perpendicular aos candeeiros da Avenida de Ceuta e paralelo ao rio bordado de armazéns, de pontões, de gruas, de guindastes, de contentores e de veículos de carga, a aguardarem a lúcia-lima da aurora e os operários que caminhavam no sentido do Tejo, custosos de distinguir na hesitação do sol.

O comboio, meu amor, deslocou-se rumo ao Estoril e a Cascais (do sítio onde moramos lobrigo na distância vilas que seguram nos dedos albatrozes e paquetes) e o nosso andar da Quinta do Jacinto vibrou como se um remoinho de bielas o fendesse de golpe, sacudindo nas prateleiras os ursos de barro e os elefantes de vidro, os palhaços de pano e o Wagner cromado, e fazendo cair, da cómoda para o chão, a caixita esmaltada em que guardas os anéis, as pulseiras, e os brincos de prata fingida que te dou no Natal, se me sobeja algum dinheiro do subsídio do Estado. O comboio deslocou-se para o Estoril enquanto retiniam campainhas e ampolas se acendiam e apagavam, desarrumou os prédios de Alcântara e tu rodaste no teu sono, sem deixar de dormir, até te voltares para mim num gemido infantil. Os tornozelos apertaram-se nos meus, e sem cessar de falar a minha boca aproximou-se traiçoeiramente, furtivamente, cautelosamente da tua: cheirava-te o hálito, cheirava-te o cabelo, cheirava-te o pescoço, cheirava as pregas da cintura, as pregas da barriga, e ia acariciar-te o púbis, sentir a textura de que és feita, quando o gato, assustado pelo frenesim do meu júbilo, pulou da colcha enovelando-se num candeeiro cujo quebra-luz se desfez aclarando por um segundo a mobília do quarto. E de pronto os teus cotovelos se agitaram, o corpo desviou-se rolando as ancas e as espáduas que se desprendiam das alças, e fiquei sozinho a salivar desgostos, embalado pelas carruagens que galopavam para os esgotos, as praias e os barquitos da Linha, embalado, meu amor, pelas vagas do rio, a segurar nas mãos, numa atitude de prece, a ausência de uma nádega.

[…]

domingo, 29 de abril de 2007

Amor e Tesão

"Os relacionamentos amorosos, sejam eles somente sexuais ou aqueles que viram namoro ou até mesmo casamento têm um componente em comum: o tesão. Os indivíduos, ao se encontrarem, são movidos pelo tesão que o outro inspira. Os olhares, os primeiros contatos são impelidos por esta “química” que acontece entre duas pessoas. O elemento tesão não é universal, funciona de formas diferentes para pessoas diferentes. O que gera um grande interesse para uns não necessariamente será para outros. Por isso, não existem modelos de beleza ou de pessoas que sejam unanimidades.
Quando duas pessoas se conhecem, antes mesmo de trocarem palavras, elas são chamadas uma para a outra por certas características físicas que são agradáveis. Se acontecer do tesão aparecer, acontecerá o sexo ou o relacionamento. Caso contrário, este encontro poderá se tornar uma grande amizade ou nada. Para acontecer o sexo, é imprescindível que haja a vontade de praticá-lo com aquela pessoa.
O tesão não é somente físico, ele pode ser psicológico, como por exemplo, um bom papo ou uma companhia agradável. E ele pode surgir no decorrer da relação que está se estabelecendo entre essas pessoas. Quantos já foram surpreendidos pelo desejo de que aquele amigo seja mais que amigo? Ou quantos se pegaram interessados por um colega que antes não prestavam tanta atenção? Isso pode acontecer, quando o tesão surge, a relação passa pra outro nível, proporcionando o encontro corporal entre duas pessoas.
Na mesma linha de pensamento, quando o tesão acaba, a relação pode estar fadada ao insucesso. Quando um dos parceiros não sente tanta vontade de estar com outro, não sente necessidade de sexo, ou ainda, procura sexo com outras pessoas, é o tesão por aquele indivíduo que acabou. E isso é tão real que muitos casamentos já terminaram por causa disso.
É claro que o tesão é compartilhado com outras coisas, como a vida afetiva saudável ou o bom relacionamento entre a dupla, mas neste artigo será explorado somente a questão do desejo, da química, do tesão propriamente dito. E estes elementos não são racionais, são parte do inconsciente de cada um e de como ele é ou não receptivo ao outro. Por isso que existem as pessoas que chamam ou não a atenção da outra, por isso existem as ficadas, os amores, os casamentos. Sem tesão, os indivíduos teriam relações furtivas uns com outros, mas não se manteriam em um relacionamento.
O próprio prazer sexual tem a ver com a questão do tesão. Se o desejo não é grande, o prazer pode não acontecer, ou ser menor do que se esperava. Assim como a maioria das questões das vidas dos indivíduos, a vontade de estar lá, de realizar determinada ação é a mola propulsora pra que tudo aconteça. Nos relacionamentos, esta mola é o tesão.
Por melhor que possa ser o outro, sem tesão, a relação não passa de amizade. Porém, se ele existir, é muito difícil que não aconteça uma relação sexual, ou até mesmo uma relação mais profunda. Tesão e amor acabam andando juntos nas relações mais duradouras."

Anne Griza

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

Na noite passada o meu sono esteve inquieto e o corpo não pedia descanso
Corri à cozinha para beber um copo de leite e liguei a tv
Tive a sorte de ao escolher o canal 2 e poder ver um programa que passava sobre a revolução

Fantástico!
Ouviam-se testemunhos de variados tipos e despertaram-se a atenção especialmente os seguintes:

  • o preso político que quase ofereceu a vida por um ideal e que hoje está desempregado
  • a retornada de Angola que chora ao lembrar a vida que deixou para trás e que nunca mais recuperou
  • a trabalhadora do campo nas searas do alentejo que hoje é empregada doméstica
  • o empresário que fugiu para o Brasil com a família e voltou 4 anos depois

Foi bonito ver o alívio e entusiasmo do povo gritando "O povo unido já mais será vencido".

Gostei também de recordar algumas músicas que hoje são emblemáticas e que ficarão para sempre na nossa memória, mesmo na daqueles que como eu aprenderam a ouvi-las perante a alegria dos nossos pais.

Foi comovente assistir à libertação dos presos que se mantiveram firmes lutando contra alucinações e torturas, ao regresso dos combatentes a 31/12/74 que fugindo do ruído do fogo de artifício pensando em bombardeamentos.

Mas decepcionou-me ao constatar que quem nos governa hoje não lutou por este regime nem parece seguidor daqueles que o fizeram. A liberdade é boa, para mim sempre o foi porque não tenho termo de comparação, mas o desemprego e as condições de vida da minha geração não parecem frutos de uma revolução libertadora de uma ditadura.

Somos filhos de pais que educaram licenciados (obrigada ao sr. 1ºministro por isso) e contraiem empréstimos com a maior das facililidades, mas serão estas as nossas oportunidades?

terça-feira, 24 de abril de 2007

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância,eu estava no lugar certo,na hora certa,no momento exato.
E, então,pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meucrescimento .
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável.
Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o Futuro.
Agora, me mantenho no presente,que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez...
Isso é...Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar.
Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é....Saber viver*

C. Chaplin

terça-feira, 17 de abril de 2007

Amigos

Há já alguns anos que penso nisto
Que há já muito tempo vivo só comigo
Que não sei o que é cultivar uma amizade
Que não sei estar lá
Que não estão comigo

Sempre me dediquei a outras conquistas
egoístas, sempre separei mais do que uni
Que sempre fuji daqueles que me procuram
Que fujo muito de mim própria

Que tenho medo, que tenho muito medo de aceitar
Que não consigo aceitar que afinal foi tudo diferente
Que não me tornei a mulher que queria ser
Que não fui a filha, a irmã que eles queriam

Que não entendo porque construíram a minha vida
Que não entendo porque deixei que o fizessem

Porque me tenho que limitar aquilo que não quero
Porque sou igual aqueles que critico

Porque começo a perder as forças no momento que devia ser feliz
Porque escolho sempre as pessoas erradas
Porque tenho este orgulho que me persegue

Porque insisto nos meus sonhos quando já nada resta deles?
Porque sinto falta de ser amada, se não sei amar?

sábado, 14 de abril de 2007

A lição da borboleta

"Um dia uma pequena abertura apareceu num casulo; um homem sentou-se e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.
Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso.
Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais.
Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o resto do casulo. A borboleta então saiu facilmente.
Mas o seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observá-la, porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo qeu iria se afirmar a tempo.
Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida restejando com um corpo murcho e asas encolhidas. ela nunca foi capaz de voar.
O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendeu, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura é o modo pelo qual Deus faz com que o fluído do corpo da borboleta vá para as suas asas, de forma que ela fique pronta para voar logo que esteja livre do casulo.

Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida.
Se Deus nos permitisse passar através das nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iriamos ser tão fortes como poderiamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar.

Eu pedi forças... e Deus deu-me dificuldades para fazer-me forte.
Eu pedi sabedoria... e Deus deu-me problemas para resolver.
Eu pedi prosperidade... e Deus deu-me cérebro e músculos para trabalhar.
Eu pedi coragem... e Deus deu-me obstáculos para superar.
Eu pedi amor... e Deus deu-me pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi favores... e Deus deu-me oportunidades.

Eu não recebi nada do que pedi... mas eu recebi tudo de que precisava."

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Duas Quadras

Não sei se tens reparado
Quando passeia, o luar
Pára sempre à tua porta
E encosta-se a chorar;

E eu que passo também
Na minha mágoa a cismar
Paro junto dele, e ficamos
Abraçados a chorar!

Florbela Espanca

A Chatice

"A frase que mais vezes ouvi enquanto andava na escola, no País dos anos 70 e 80, era um conselho tintado de profecia: Quando trabalhares, a única coisa importante é que gostes daquilo que fazes. Suspeito de que tenham dito o mesmo a pessoas da minha idade que recolham lixo, limpem fossas ou trabalhem numa bilheteira de um terminal de autocarros. Não admira que possamos supor que se sentem traídas, odeiem o que façam e sonhem todos os dias com férias, E que provavelmente desejem para os seus filhos que estes façam qualquer coisa de que gostem e na qual se sintam realizados, pessoal, profissional e financeiramente.

Que desejo eu para o futuro dos meus filhos? Não lhes posso prometer que vão ser felizes ou que vão gostar daquilo que estão a fazer- sejam astronautas, decoradores ou chefes de repartição. A vida é deles e essas conquistas também. Essencialmente, e se pudesse, desejaria que eles se sentissem autónomos para poderem escolher seja lá o que for que esteja em causa e que sentissem que o caminho que tomaram os levará a algum lado. Se não levar, podem sempre voltar atrás e contar comigo. Um sintoma de que isso estaria a acontecer seria não terem permanentemente um desejo infinito de férias e de escapismo. Porque, como bem sabemos, as férias só são férias porque acabam."

Pedro Boucherie Mendes

domingo, 1 de abril de 2007

O tempo não passa

Hoje sei que tenho que voltar a mergulhar para bater asas
Espelhar as minhas desilusões em ti não me trará nada de novo
Sem querer torno os meus sonhos páginas de vida num caminho solitário

Luto por construir a minha colónia
Mas entre avanços e recuos perco as forças
Onde estás que não me ouves?

Já não sei se me dedique a ti ou a mim
Sinto que já lá estive mas que me perdi

Enquanto isso conto as horas e os minutos
E lembram-me que sou jovem

A Abelha Rainha

A rainha é a personagem central e mais importante da colméia. Afinal, é dela que depende a harmonia dos trabalhos da colônia, bem como a reprodução da espécie.
A rainha é quase duas vezes maior que as operárias e vive cerca de 3 a 6 anos. A sua única função, do ponto de vista biológico, é a postura de ovos, já que ela é a única abelha feminina com capacidade de reprodução. Mas a abelha rainha desempenha um importante papel do ponto de vista social: Ela é a responsável pela manutenção do chamado 'Espírito da colméia', ou seja, pela harmonia e ordenação dos trabalhos da colônia. Ela consegue manter este estado de harmonia produzindo uma substância especial denominada ferormônio, a partir de suas glândulas mandibulares, que é distribuída a todas as abelhas da colméia. Esta substância, além de informar a colônia da presença e atividade da rainha na colméia, impede o desenvolvimento dos órgãos sexuais femininos das operárias impossibilitando-as, assim, de se reproduzirem. É por essa razão que uma colônia tem sempre uma única rainha. Caso apareça outra rainha na colméia, ambas lutarão até que uma delas morra.
A rainha é criada numa cápsula denominada realeira, na qual é alimentada pelas operárias com a geléia real, produto riquíssimo em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. É precisamente, esta "superalimentação" que a tornará uma rainha diferenciando-a das operárias. A geléia é o único e exclusivo alimento da abelha rainha, durante toda sua vida.
A abelha rainha leva de 15 a 16 dias para nascer e, a partir de então, é acompanhada por um verdadeiro séquito de operárias, encarregadas de garantir sua alimentação e seu bem-estar. Após o quinto dia de vida, a rainha começa a fazer vôos de reconhecimento em torno da colméia. E a partir do nono dia, ela já esta preparada para realizar o seu vôo nupcial, quando, então, será fecundada pelos zangões. A rainha escolhe dias quentes e ensolarados, sem ventos fortes, para realizar o vôo nupcial.

O Vôo Nupcial
Somente os zangões mais fortes e rápidos conseguem alcança-la após detectar o ferormônio. Localizada a "princesa", dá-se início à cópula. No entanto, os vários zangões que conseguirem a façanha terão morte certa e rápida, pois seus órgãos genitais ficarão presos no corpo da rainha.
O vôo nupcial que a rainha faz é o único em sua vida. Ela jamais sairá novamente da colméia, a não ser para acompanhar parte de um enxame que abandona uma colméia, para formar uma nova. Ao regressar de seu vôo nupcial, a rainha se apresenta bem maior e mais pesada. Passará a ser tratada com atenção especial por parte das operárias, que a alimentam com a geléia real e cuidam de sua higiene. Se a jovem rainha é, por exemplo, devorada por um pássaro durante seu vôo nupcial, sua colméia de origem fica irremediavelmente fadada à extinção.
Uma ocasião grave é quando elas percebem que a mãe de todas já não tem a mesma energia. Sendo uma família forte, decididamente não se permite enfraquecer. Então concluem que é hora de chamar à vida uma nova rainha. Numa colméia forte sempre há realeiras em construção: é uma questão de sobrevivência no caso de algum acidente acontecer com a mestra. Sendo esta, porém, prolífica, não é permitido a estas realeiras desenvolverem-se normalmente - a não ser nestas ocasiões especiais. Neste caso, uma rainha cuja energia se acaba é sinal para as realeiras seguirem seu curso. Tendo garantida uma ou mais princesas em formação, é necessário eliminar a velha mãe. Uma abelha comum nunca ferroa uma rainha; ela sequer lhe dá as costas. Assim elas são obrigadas a usar uma tática "sutil". Formam uma bola em torno da idosa senhora e ali a vão sufocando até a morte; e a rainha, compreendendo sua sina, não procura resistir. Terminada esta etapa, começam a nascer as novas princesas. Só pode haver uma rainha na colméia, e a primeira que emerge logo procura as outras realeiras para as destruir. Se duas nascem simultaneamente, lutam entre si, e vence a mais forte. A única sobrevivente segue seu curso normal para se tornar mais uma rainha completa. É interessante que neste momento toda uma família dependa de um único indivíduo para sua sobrevivência.
A rainha também não aceita a presença da princesa, mas as operárias já decidiram que outras princesas devem nascer, e o objetivo não é substituir a mestra, e sim dividir a família em um ou mais enxames; portanto não permitem as lutas naturais.
Depois que as princesas nascem, um grupo de operárias dirige-se aos reservatórios de mel e enchem seus estômagos até não caber mais uma gota. Este grupo, normalmente bem numeroso, prepara-se para partir. Por algum mecanismo desconhecido convocam a rainha para a viagem. Logo sai da colméia uma nuvem de abelhas, a rainha entre elas, e alguns zangões. O enxame não vai muito longe. Pousa em alguma árvore ali por perto, e algumas abelhas mais experientes, na qualidade de escoteiras, partem em busca de um novo local para habitar.
Quando as abelhas escoteiras retornam, há um "conselho" para decidir qual o rumo a tomar. Uma vez tomada a decisão elas partem para um vôo mais longo. O enxame pode ainda parar outras vezes. Às vezes o local escolhido não agrada ao grupo, que então aguarda por ali, para que nova pesquisa seja feita. Quando o grupo encontra o lugar adequado, começa a construção do novo ninho. As abelhas engenheiras escolhem então o ponto mais central do que puder ser chamado de teto; ali formam um bolo compacto e começam a gerar calor usando a reserva de mel que trouxeram no papo. As abelhas que ficaram no centro da bola encarregam-se de produzir cera, e logo é possível visualizar uma fina folha de cera vertical se formando. Em seguida algumas abelhas iniciam a construção dos alvéolos hexagonais, de ambos os lados da lâmina, seguindo uma intricada arquitetura que aproveita todos os espaços e ângulos da melhor maneira possível. Os alvéolos são construídos de forma a terem uma leve inclinação para cima, evitando que o seu conteúdo escorra para fora.
É fascinante observar as abelhas construírem os favos. Encostam-se umas às outras pelas patas e começam a secretar e mastigar pequenas escamas de cera; pouco depois as colocam e amoldam até completar o favo (de cima para baixo).

Em http://www.saudeanimal.com.br/